quinta-feira, 16 de julho de 2015

Projeto ensina técnica para pentear (e valorizar!) cabelos crespos e cacheados






“O cabelo liso é sempre mais bonito”. Essa era a mensagem que Penélope Santos, 25 anos, afirma sempre ter recebido da indústria de cosmético para cabelos. Cansada de ouvir uma afirmação preconceituosa e que desvalorizava a beleza de muitas brasileiras, a estudante decidiu romper com este paradigma.
Durante a explicação do um professor de química sobre as diferenças genéticas entre os cabelos lisos e encaracolados, a jovem resolveu aprender mais sobre o assunto além de desenvolver uma técnica para deixar os cabelos crespos e cacheados mais bonitos. Nascia o “Monitoria para Cabelos”.
O projeto é voluntário. Penélope ministra oficinas e palestras na Universidade de Brasília (UnB) e nas escolas públicas do DF sobre os cuidados que as pessoas devem ter com as madeixas. De acordo com a estudante, a técnica para tratar os cabelos é simples. “Consiste em dividir o cabelo em camadas, penteando os cachos com os dedos e o auxílio de um pente”, revela Penélope, mestranda em Cooperação Internacional e Integração Regional pela UnB.
Penélope explica que não fez nenhum curso profissional e que tudo foi aprendido na base da teoria aplicada à prática. “Juntei os conteúdos as aulas de física de molas e desenvolvi a técnica para cabelos cacheados. Assim, técnica é resultado da aplicação de conteúdos didáticos e das aulas de exatas aos cabelos, aliada à prática de experimentar em mim mesma”, revela.

Para ilustrar as aulas, Penélope usa exemplos como fios de telefone.
A estudante diz que não é contra as mulheres que utilizam chapinha ou fazem escova no cabelo para se sentir melhor. “Só acho que elas deveriam ser opção e não obrigação”, afirma. Segundo ela, a autoestima da mulher está no natural, em assumir o cabelo que elas têm e não acreditar no que está escrito nos rótulos de xampu ou no que as novelas passam para sociedade.
A engenharia mecânica Thamise Sampaio participou de um dos encontros Monitoria para Cabelo. Ela conta que ficou sabendo das oficinas por meio de uma amiga, e mesmo não empolgada com o convite, a engenheira saiu da aula convencida a deixar o cabelo natural, sem alisamento. “Já tinha mais de ano que alisava meu cabelo diariamente, com a chapinha. Depois das dicas da Penélope, me senti estimulada a assumir meus cabelos encaracolados”, revela.  “O trabalho desenvolvido no Monitoria é importante, pois tira aquela ideia de que a mulher só é bonita com o cabelo liso. Nós temos que assumir a nossa identidade”, acrescenta.
Para saber sobre o projeto, além de aprender como deixar o cabelo ainda mais bonito, acesse o blog:  http://monitoriaparacabelos.blogspot.com.br/
Também é possível aprender a técnica no link do tutorial: http://migre.me/aZlth


Confira entrevista com a Penélope sobre o projeto.
Quando e como surgiu a ideia do “Monitoria para cabelos”?
 Eu penteio o cabelo dessa forma faz 5- 6 anos, e desde que comecei a fazer assim, sempre sou parada na rua com as pessoas me perguntando  se o meu cabelo é de verdade, como que eu penteio, mas a pergunta mais freqüente sempre foi : que creme que eu uso. Eu não gosto de falar o creme que eu uso, porque quero mostrar que o meu segredo não está nos cremes e sim na técnica que eu uso.
 Eu só pude descobrir uma técnica para pentear meus cabelos porque tive bons professores de química e física no ensino médio e no cursinho pré- vestibular. Aprendi a composição química dos cabelos e a diferença entre cabelos lisos e crespos. Juntei os conteúdos às aulas de física de molas e desenvolvi a técnica para cabelos cacheados.  Assim, técnica é resultado da aplicação de conteúdos didáticos das aulas de exatas  a  cabelos.
Qual o objetivo da proposta?
Meus objetivos são divulgar minha a técnica e incentivar que novas técnicas surjam, além de incentivar que meninas se interessem por matérias de química e física, para que elas sejam, no futuro, as engenheiras nas empresas de cosméticos. Quero promover a discussão sobre  a relação que temos com nossos cabelos no Brasil: apesar de todo o avanço no campo da química e física, não sabemos categorizar os fios de cabelos e dividimos as pessoas entre as que tem cabelo “bom” e “ruim”. Mostrar que  cabelos seria um excelente tema para estudo, não apenas pelo conteúdo de exatas, mas por questões ligadas ao combate ao racismo; mostrar o racismo e o machismo escondido por trás da seleção de conteúdos didáticos.
Qual o público-alvo dessa monitoria?
Mulheres. De qualquer tipo de cabelo.
As que têm cabelos lisos, para que entendam a estrutura de seus fios, o porquê do babylis não ficar durante muito tempo no cabelo, para que saibam cuidar do cabelo de seus filhos e filhas, caso sejam cacheados ou crespos, e para que elas deixem de acreditar que o cabelo delas é melhor que os outros.  As de cabelos cacheados e crespos, para que tenham a sua disposição mais técnicas de pentear, que sejam eficazes e PRÁTICAS. Há uma série de pseudo-técnicas[1] para cabelos cacheados e crespos sendo divulgadas pelas empresas , mas elas não levam em consideração que somos mulheres normais, com um dia-a-dia corrido, moramos em condições climáticas distintas, temos possibilidades econômicas diferentes.
 E, especialmente, para as adolescentes: despertar o interesse em matérias de química e física no ensino médio.

Você já sofreu algum preconceito por causa do seu cabelo?
 É difícil definir se já sofremos ou não preconceito por causa do cabelo, pelo tipo de racismo do Brasil, velado, mas, é muito visível quando vemos estatísticas sociais. Várias pessoas sempre me falaram que eu tinha que relaxar o cabelo para deixar com menos volume, isso não deixa de ter um preconceito escondido.
Onde você aprendeu a técnica?
Eu mesma desenvolvi a técnica.  Descrevi a técnica e registrei no Escritório de Direitos Autorais da Biblioteca Nacional.
O que você acha que deve mudar para que as mulheres tenha sua autoestima elevada, independente do cabelo?
Creio que, para ter autoestima, primeiramente temos que ser tratados de forma digna pelo grupo ao qual pertencemos.  Mas acho a questão mais complicada de todas, e não acho que ela se resuma nessas frases clichês do tipo: “é estar bem consigo mesmo” e etc. Há um plano de fundo muito cruel por trás da baixa autoestima de mulheres que tenham cabelos cacheados e crespos, que é o racismo. Raramente a personagem de cabelos crespos é alguém importante em novelas, por exemplo. Os cabelos crespos nas novelas aparecem nos personagens ladrões, subalternos, caricatos, tal como essa tal de Adelaide, do Zorra Total. Quem consegue ter alta autoestima assim? Temos que mudar essa cultura com esclarecimento e valorização da mulher, não importa sua cor, origem ou a textura do cabelo.
[1] Trocar fronha de algodão por uma fronha de seca, não usar toalha para secar o cabelo, substituindo-a por guardanapo, não pentear com pente de plástico, e pentear e esperar secar nos cabelos em locais com pouco vento são algumas dicas antigas para tratar cabelos crespos e encaracolados.

Retirado daqui

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