“O cabelo
liso é sempre mais bonito”. Essa era a mensagem que Penélope Santos, 25 anos,
afirma sempre ter recebido da indústria de cosmético para cabelos. Cansada de
ouvir uma afirmação preconceituosa e que desvalorizava a beleza de muitas
brasileiras, a estudante decidiu romper com este paradigma.
Durante a
explicação do um professor de química sobre as diferenças genéticas entre os
cabelos lisos e encaracolados, a jovem resolveu aprender mais sobre o assunto
além de desenvolver uma técnica para deixar os cabelos crespos e cacheados mais
bonitos. Nascia o “Monitoria para Cabelos”.
O projeto é
voluntário. Penélope ministra oficinas e palestras na Universidade de Brasília
(UnB) e nas escolas públicas do DF sobre os cuidados que as pessoas devem ter
com as madeixas. De acordo com a estudante, a técnica para tratar os cabelos é
simples. “Consiste em dividir o cabelo em camadas, penteando os cachos com os
dedos e o auxílio de um pente”, revela Penélope, mestranda em Cooperação
Internacional e Integração Regional pela UnB.
Penélope
explica que não fez nenhum curso profissional e que tudo foi aprendido na base
da teoria aplicada à prática. “Juntei os conteúdos as aulas de física de molas
e desenvolvi a técnica para cabelos cacheados. Assim, técnica é resultado da
aplicação de conteúdos didáticos e das aulas de exatas aos cabelos, aliada à
prática de experimentar em mim mesma”, revela.
Para ilustrar as aulas, Penélope usa exemplos como
fios de telefone.
A estudante
diz que não é contra as mulheres que utilizam chapinha ou fazem escova no
cabelo para se sentir melhor. “Só acho que elas deveriam ser opção e não
obrigação”, afirma. Segundo ela, a autoestima da mulher está no natural, em
assumir o cabelo que elas têm e não acreditar no que está escrito nos rótulos
de xampu ou no que as novelas passam para sociedade.
A engenharia
mecânica Thamise Sampaio participou de um dos encontros Monitoria para Cabelo.
Ela conta que ficou sabendo das oficinas por meio de uma amiga, e mesmo não
empolgada com o convite, a engenheira saiu da aula convencida a deixar o cabelo
natural, sem alisamento. “Já tinha mais de ano que alisava meu cabelo
diariamente, com a chapinha. Depois das dicas da Penélope, me senti estimulada
a assumir meus cabelos encaracolados”, revela. “O trabalho desenvolvido
no Monitoria é importante, pois tira aquela ideia de que a mulher só é bonita
com o cabelo liso. Nós temos que assumir a nossa identidade”, acrescenta.
Para saber
sobre o projeto, além de aprender como deixar o cabelo ainda mais bonito,
acesse o blog: http://monitoriaparacabelos.blogspot.com.br/
Também é
possível aprender a técnica no link do tutorial: http://migre.me/aZlth
Confira
entrevista com a Penélope sobre o projeto.
Quando e
como surgiu a ideia do “Monitoria para cabelos”?
Eu
penteio o cabelo dessa forma faz 5- 6 anos, e desde que comecei a fazer assim,
sempre sou parada na rua com as pessoas me perguntando se o meu cabelo é
de verdade, como que eu penteio, mas a pergunta mais freqüente sempre foi : que
creme que eu uso. Eu não gosto de falar o creme que eu uso, porque quero
mostrar que o meu segredo não está nos cremes e sim na técnica que eu uso.
Eu só
pude descobrir uma técnica para pentear meus cabelos porque tive bons
professores de química e física no ensino médio e no cursinho pré- vestibular.
Aprendi a composição química dos cabelos e a diferença entre cabelos lisos e
crespos. Juntei os conteúdos às aulas de física de molas e desenvolvi a técnica
para cabelos cacheados. Assim, técnica é resultado da aplicação de
conteúdos didáticos das aulas de exatas a cabelos.
Qual o
objetivo da proposta?
Meus
objetivos são divulgar minha a técnica e incentivar que novas técnicas surjam,
além de incentivar que meninas se interessem por matérias de química e física,
para que elas sejam, no futuro, as engenheiras nas empresas de cosméticos.
Quero promover a discussão sobre a relação que temos com nossos cabelos
no Brasil: apesar de todo o avanço no campo da química e física, não sabemos
categorizar os fios de cabelos e dividimos as pessoas entre as que tem cabelo
“bom” e “ruim”. Mostrar que cabelos seria um excelente tema para estudo,
não apenas pelo conteúdo de exatas, mas por questões ligadas ao combate ao
racismo; mostrar o racismo e o machismo escondido por trás da seleção de
conteúdos didáticos.
Qual o
público-alvo dessa monitoria?
Mulheres. De
qualquer tipo de cabelo.
As que têm
cabelos lisos, para que entendam a estrutura de seus fios, o porquê do babylis
não ficar durante muito tempo no cabelo, para que saibam cuidar do cabelo de
seus filhos e filhas, caso sejam cacheados ou crespos, e para que elas deixem
de acreditar que o cabelo delas é melhor que os outros. As de cabelos
cacheados e crespos, para que tenham a sua disposição mais técnicas de pentear,
que sejam eficazes e PRÁTICAS. Há uma série de pseudo-técnicas[1] para
cabelos cacheados e crespos sendo divulgadas pelas empresas , mas elas não
levam em consideração que somos mulheres normais, com um dia-a-dia corrido,
moramos em condições climáticas distintas, temos possibilidades econômicas
diferentes.
E,
especialmente, para as adolescentes: despertar o interesse em matérias de química
e física no ensino médio.
Você já
sofreu algum preconceito por causa do seu cabelo?
É
difícil definir se já sofremos ou não preconceito por causa do cabelo, pelo
tipo de racismo do Brasil, velado, mas, é muito visível quando vemos
estatísticas sociais. Várias pessoas sempre me falaram que eu tinha que relaxar
o cabelo para deixar com menos volume, isso não deixa de ter um preconceito
escondido.
Onde você
aprendeu a técnica?
Eu mesma
desenvolvi a técnica. Descrevi a técnica e registrei no Escritório de
Direitos Autorais da Biblioteca Nacional.
O que você
acha que deve mudar para que as mulheres tenha sua autoestima elevada,
independente do cabelo?
Creio que,
para ter autoestima, primeiramente temos que ser tratados de forma digna pelo
grupo ao qual pertencemos. Mas acho a questão mais complicada de todas, e
não acho que ela se resuma nessas frases clichês do tipo: “é estar bem consigo
mesmo” e etc. Há um plano de fundo muito cruel por trás da baixa autoestima de
mulheres que tenham cabelos cacheados e crespos, que é o racismo. Raramente a
personagem de cabelos crespos é alguém importante em novelas, por exemplo. Os
cabelos crespos nas novelas aparecem nos personagens ladrões, subalternos,
caricatos, tal como essa tal de Adelaide, do Zorra Total. Quem consegue ter
alta autoestima assim? Temos que mudar essa cultura com esclarecimento e
valorização da mulher, não importa sua cor, origem ou a textura do cabelo.
[1] Trocar
fronha de algodão por uma fronha de seca, não usar toalha para secar o cabelo,
substituindo-a por guardanapo, não pentear com pente de plástico, e pentear e
esperar secar nos cabelos em locais com pouco vento são algumas dicas antigas
para tratar cabelos crespos e encaracolados.
Retirado daqui
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